"Sou um só, mas ainda assim sou um. Não posso fazer tudo, mas posso fazer alguma coisa. E, por não poder fazer tudo, não me recusarei a fazer o pouco que posso"

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

CADERNOS DA LIBERDADE Uma visão do mundo diferente do senso comum modificado

Autor: Sérgio Augusto de Avellar Coutinho
Editora: Sografe
Assunto: Política
Edição: 1ª
Ano: 2003
Páginas: 241

Tecer análises geopolíticas sem conhecer as principais correntes ideológicas e partidárias que movem os homens do poder, é como fazer comentários futebolísticos sem conhecer as estratégias dos times participantes. Sem este conhecimento básico, ficamos à mercê de análises ingênuas e imediatistas. Diante do fim da União Soviética, o ignorante dirá “o comunismo acabou”; diante de um Lula light, dirá “o PT amadureceu”; diante de privatizações tucanas, dirá “FHC é neoliberal”; diante de exigências do FMI, dirá “somos dominados pelo imperialismo americano”. O sujeito se fixará ao curtíssimo prazo, às circunstâncias locais, aos aspectos visíveis, às impressões de primeira viagem; tudo lhe parecerá caótico, individualista e, acima de tudo, incompreensível.

Romper a redoma de vidro que separa o senso comum moldado pelo sistema educacional e midiático e introduzir o leitor às idéias e objetivos que norteiam as grandes doutrinas e movimentos políticos nacionais e internacionais, é o que faz Sérgio Augusto de Avellar Coutinho em seu livro Cadernos da Liberdade. Lastreado por pesquisas e documentos, neste livro não há espaço para “teorias da conspiração” baratas, paranóias de botequim ou declarações bombásticas e passionais. O que se encontrará, são fatos e análises precisas.

O livro é dividido em três cadernos temáticos. No primeiro caderno (“O Comunismo não acabou”), o autor versa sobre uma de suas especialidades – já plenamente demonstrada em sua obra anterior, A Revolução Gramscista no Ocidente –, o Movimento Comunista Internacional, a concepção revolucionária comunista de Antônio Gramsci e os movimentos comunistas brasileiros responsáveis por levar adiante tal estratégia. Neste caderno, o leitor conhecerá as diversas correntes que compõem o movimento comunista, o papel das ONGs, das diversas Internacionais, do Foro de São Paulo, do Fórum Social Mundial e da Escola de Frankfurt; entenderá como e porquê os partidos comunistas brasileiros (PT, PPS, PCdoB, PSB etc.) modificaram suas estratégias de tomada de poder na década de 1990.

No segundo caderno (“Internacionalismos intrometidos”), Coutinho apresenta as principais doutrinas estatistas que concorrem com os movimentos comunistas, quais sejam: a social-democracia, o fabianismo e o movimento político de Lyndon La Rouche. A social-democracia, embora distinta doutrinariamente em alguns pontos do marxismo, é igualmente socialista: “Realmente, os partidos marxistas-leninistas, principalmente aqueles que estão na legalidade, tentam passar uma imagem democrática, confundindo o seu discurso com o da social-demoracia, mascarando o seu projeto revolucionário e iludindo os burgueses conservadores” (p. 100). Especial atenção é dada à Suécia, sua história e ascensão do Partido Social-Democrata. Apresentada ao mundo como prova cabal de que o socialismo dá certo, a Suécia é mostrada exatamente como é: uma nação ateísta, infeliz, unipartidária, “uma monocracia partidária cuja continuidade no poder é garantida pela doutrinação, pela propaganda, pela manipulação dos eleitores e pela estatolatria” (p. 107-8). O autor infelizmente é obrigado a dispensar muitas páginas para descrever Lyndon La Rouche e sua “doutrina conspiratória”. O problema é que La Rouche faz uso de algumas poucas verdades e as floreia com devaneios fantasiosos e paranóicos, tornando seu entendimento algo complexo. Mas vale à pena: embora embrionário no Brasil, bem sabemos que nossa terra é fértil para ideologias estapafúrdias e fracassadas, e alertar o público quanto a essas ideologias é um dever que o autor cumpre com louvor.

No terceiro caderno (“O mundo cão”), Coutinho mostra o que é a tal Nova Ordem Mundial e quais as ameaças e desafios que a nova Guerra Fria representa.

Nenhum comentário: